1.
Seja explícito quanto à
estrutura de sua argumentação desde o princípio. Todo texto precisa de uma
introdução, uma discussão principal e uma conclusão. Exponha sua posição no
início - i.é., diga o que você vai fazer,
faça-o, e diga o que fez. Seu leitor estará exatamente na sua posição
desde o começo do texto e pode interagir com suas idéias quando elas aparecem
porque sabe para onde a discussão caminha. O oposto é manter o leitor no escuro
sobre a força de sua argumentação, a ponto de ele ter de confiar sempre na
relevância do que é dito e então tirar o coelho da cartola ao final, na forma
de algumas idéias ou conceitos que você guardou até a conclusão. É inadmissível
porque, para discutir com você, o leitor tem de ler o trabalho duas vezes. Isto
pode acontece quando você está escrevendo um rascunho e se dá conta do que é o
trabalho somente quando o termina; nestes casos você tem de por as idéias
principais no começo e rescrever tudo.
2.
Comece com o problema ou
questão que pretende resolver, não com alguma teoria grandiloqüente. Erro comum é expor idéias
teóricas no princípio à guisa da estrutura geral do trabalho. O leitor terá a
expectativa de que você vai fazer progressos relativos a estes grandes problemas
teóricos. A probabilidade é que você não
vai inovar neste nível; quando passa a discutir suas próprias idéias, fica
difícil relacioná-las à estrutura que definiu. Se começar com um problema modesto,
pode ser que não chegue a grandes avanços, mas poderá surpreender o leitor ao
relacionar idéias teóricas ao seu problema e esclarecê-lo. Este é o melhor
caminho para uma boa teoria.
3.
Uma boa idéia basta para
escrever um texto; mas uma idéia, ou hipótese, é essencial. Apresentar o trabalho de
outros de maneira descritiva não basta. Tentar uma análise sem qualquer idéia
do que você pretende conseguir, apenas com a esperança de chegar a algo, pode
bastar no estágio inicial de um curso, mas não para um trabalho substancial
como uma dissertação. Carece acrescentar algo na forma de uma intuição, a
aprofundar pela reflexão. Não procure resolver muitos problemas num só trabalho
– a tentação “já que estamos falando nisso”. Se tentar discutir mais que um
determinado conjunto de idéias num só trabalho, a probabilidade é que você
termine num atoleiro. Selecione uma boa linha de investigação e tenha a
esperança de levantar questões relevantes no seu trato.
4.
Todo texto precisa de um
problema (que é diferente de um campo de pesquisa), um conjunto de dados, um
corpo de literatura e uma hipótese. Você nada conseguirá sem os quatro. Um campo de estudo é uma área
abrangente - e.g., a relação entre habitação e o estado – que contém
muitas possíveis linhas de pesquisa. Nomear o campo lhe localiza numa
comunidade de pesquisa mas não lhe ajuda a ser claro acerca do que você vai
fazer ou o que você pretende acrescentar. É preciso identificar um problema
específico no qual você pretende progredir - e.g., a medida que a
participação de potenciais usuários no planejamento habitacional influencia a
forma final do projeto. Você saberá quando identificou um problema, ou uma
questão, porque neste ponto verá como chegar a uma resposta ao tratar um
conjunto de dados. Nem tente escrever sobre algo sem boas informações pelas
quais testar suas idéias. No caso hipotético é uma amostra de projetos
residenciais com sabidamente diferentes níveis de participação de usuários no
processo de projeto; as possíveis variáveis que poderiam dar conta das diferenças
precisam ser estudadas. Não selecione seus dados como meio de disfarçar uma
argumentação pobre. Se fizer isso, seus inimigos logo o desmascarão. Você deve
ser o primeiro a indicar dificuldades com a escolha de suas informações, não o
último. Afinal, selecionar dados para impulsionar idéias fracas é blefar; mesmo
que você se saia bem estará enganando a si próprio. O próximo passo será
revisar o saber tradicional ou o “estado da arte”, antes de apresentar suas
próprias idéias. Contextualize seu trabalho; demonstre conhecer sua relação com
outros trabalhos no campo.
5.
Escreva na terceira pessoa
– “este texto trata de...” – não na primeira. Isto pode parecer pedante,
mas o objetivo é distanciar você e seu investimento emocional na sua produção
enquanto autor, do texto como produto, ao
fazê-lo o máximo independente. O trabalho que você escreve deve ser uma
estrutura de idéias independente que não precise de sua intervenção em qualquer
momento, para dar uma opinião, expressar uma crença, adicionar um
esclarecimento. Partimos do princípio de que você escreve por ter encontrado
algo a ser partilhado. O fato de o trabalho estar sendo feito por você não
importa; devemos julgar a qualidade das idéias sem referência a você como
pessoa. A crítica é dirigida ao esclarecimento das idéias colocadas no papel,
não a você.
6.
Apresente as idéias antes
de avaliá-las. Para começar, não pressuponha que o leitor está familiarizado
com tudo que você leu; sobretudo, você deve apresentar o trabalho aos outros
da maneira mais desapaixonada possível, para que o leitor possa formar um
julgamento independente quanto à sua relevância e limitações. Então faça sua
avaliação, com a qual o leitor concordará ou não. O objetivo não é controlar o
debate por meio de uma visão definida, mas testar a robustez das idéias,
inclusive as suas. Se você não estiver preparado para fazer isto, não poderá
aprender. Não seja metafórico. Se vale a pena dizer algo, que seja dito rigorosamente.
Metaforizar é esnobismo intelectual. (...)
7.
Sempre revele a fonte de
suas idéias e a influência no seu trabalho de idéias alheias, o melhor
possível. Claro, às vezes é difícil dizer de onde vem uma idéia, particularmente
quando se sintetiza o trabalho de muitas pessoas. Pelo menos não faça o oposto:
roubar disfarçadamente a propriedade intelectual de terceiros. Na pior versão,
apresentar cópia do trabalho de outros como seu é plágio, bilhete expresso para
o fracasso. Lembre-se: toda idéia é provisória. Depois de esboçar o problema,
examinar a literatura e analisar as informações, suas idéias continuam
sempre provisórias. Você precisa discutir suas descobertas e interpretá-las
à luz de tudo que disse até o momento; quando tiver feito isso, poderia chegar
a alguma conclusão, mas apenas poderia. Nunca somos capazes de provar
nada e nada será verdade eterna. Você poderá mostrar uma relação, sugerir
descobertas, apontar fraquezas na sua argumentação (tanto quanto sua força) e
indicar as mais aparentemente promissoras linhas para futura investigação. A
modéstia deve estar na ordem do dia; ao aceitar que demos o melhor de nós, a
pesquisa pode ser atividade muito prazerosa.
Tudo que sabemos é que provavelmente alguém surgirá com uma formulação
mais clara (não logo, se fizermos bem nosso dever de casa).
8.
Sem conversa fiada. Seu
objetivo é convencer com uma boa discussão, não com argumentos jornalísticos ou
por meio de adjetivos. Não faça perguntas retóricas. (...) Não pressione o
leitor a concordar com o que diz. Pare e pense tão logo sinta a tentação de
introduzir idéias normativas – cuidado com as palavras que você próprio tem
dificuldade em decodificar, como “sucesso”, “bom”, “fracasso”, “inapropriado”.
Tampouco use jargão. O tamanho das palavras não mede suas idéias. As melhores
idéias podem ser ditas de maneira muito simples: pensamento pouco rigoroso vem
vestido em frases de efeito. Imagine
que você precise explicar suas idéias para sua mãe; parta daí.
9.
Refira-se a exemplos tanto
quanto possível. É sempre melhor argumentar por meio de exemplos do que de
forma abstrata. Isto dá ao leitor algo concreto a que se referir, mas
seus exemplos devem ser pertinentes. Isto se aplica a figuras e desenhos, tanto
quanto a casos. Sempre interprete os diagramas que usa no texto – mesmo quando
eles lhe parecem evidentes. Inversamente, nunca deixe margem a dupla
interpretação, por não ter explicitado bem as coisas e o leitor ter de fazê-lo
por você. Não pressuponha que o leitor verá as coisas da mesma maneira que
você.
10. A discussão não deve apresentar hesitação, repetição ou desvio do
assunto. Muitos encadeamentos de idéias são difíceis de seguir, mesmo
quando apresentados claramente, sem demasiada elaboração. Censure seu próprio
trabalho para eliminar tudo que não seja essencial ao argumento. Freqüentemente
são partes desnecessárias que provocam problemas de convencimento no leitor.
Essa razão basta para evitar colocar no papel questões que não tenha absoluta
necessidade de levantar para se fazer claro.
São regras que procuramos
seguir ao escrever textos acadêmicos. Segui-las pode não levar ao Prêmio Nobel
de Literatura, ou mesmo a peça jornalística digna de suposto correspondente de
arquitetura do “Jornal da Comunidade”, mas dar-lhe-á a satisfação de fazer
pequena porém bem-formatada contribuição ao conhecimento. Se se habituar a
testar seu trabalho por estes critérios, negar-me-á o prazer de dizer “não lhe
avisei?”...
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